20 outubro, 2011

Sapatos de salto são aliados da beleza e inimigos da saúde


Uso frequente de sapatos de salto pode causar dores, deformidades no pés e problemas na coluna vertebral.



Fetiche, elegância, poder, charme. Os sapatos de salto figuram o imaginário feminino desde a infância da menina que se encanta pelo “sapatinho de cristal” da Cinderela, e por isso, vários adjetivos podem ser atribuídos a este acessório que é tão comum a vida de tantas mulheres. Entretanto, seu uso contínuo pode acarretar diversos prejuízos à saúde das articulações, como a deformação dos pés, além de dores na coluna e a atrofia da musculatura das panturrilhas. É o que concluiu a fisioterapeuta de Taubaté, Gislaine Priscila de Andrade, que em 2010 desenvolveu um trabalho científico em cima do tema e que foi apresentado no Congresso Nacional de Biomecânica, em Portugal.
Em seu estudo “‘Avaliação baropodométrica em mulheres que utilizam salto alto”, Gislaine utilizou um equipamento chamado baropodômetro, que por meio de sensores consegue dimensionar a pressão exercida na planta dos pés durante a pisada. Na pesquisa, participaram 20 mulheres, com idade entre 20 e 30 anos, que foram divididas entre grupos A e B, em que um dos grupos as mulheres usavam salto diariamente, e outro, esporadicamente. Ao fim da pesquisa, a fisioterapeuta verificou que os níveis de pressão exercidos nos pés das mulheres que usavam salto frequentemente  eram maiores, porém, eles se normalizavam quando a mesma ficava descalça. Entretanto, os prejuízos causados pelo salto podem acontecer a longo ou curto prazo, depende da freqüência de uso e do tamanho de salto usado. Além disso, ocorre também uma mudança na distribuição de peso do corpo sobre os pés quando a mulher está de salto: “o ideal é que 60% do peso corporal seja depositado sobre o calcanhar e 40% sobre a região anterior do pé.  Quando uma pessoa está sob o salto alto estes valores são alterados podendo chegar a uma pressão de até 80% sobre a região anterior do pé” explica Gislaine.
O uso contínuo dos saltos também pode afetar a coluna vertebral, pois ao “subir” no salto, imediatamente o quadril sofre uma mudança de posicionamento, que altera diretamente a postura da coluna lombar, que é o que os especialistas chamam de anteversão pélvica ou hiperlordose lombar, que pode ser observada pelo “bumbum empinado”. A fisioterapeuta explica que, “quando a coluna lombar sofre um aumento da curvatura os discos intervertebrais que se encontram entre as vértebras são sobrecarregados, o que a longo prazo pode desenvolver uma hérnia de disco. Também o aumento da curvatura lombar sobrecarrega tecidos moles como cápsulas, ligamentos e músculos, o que possivelmente causará dor local.”
O ortopedista do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Das Clínicas Da Faculdade De Medicina Da Universidade De São Paulo (HCFMUSP), Dr. Alexandre Fogaça, comenta que o salto alto altera todo o funcionamento da musculatura da perna e coluna, e que esse é um dos fatores agravantes para as dores: “O salto eleva o calcâneo, muda os vetores de força nos pés, joelhos e quadris, e aumenta a lordose lombar. Com salto, aumenta a pressão sobre o antepé, o que pode causar dor e deformidades como o joanete e calosidades.” E finaliza alertando: “O salto não deve ser usado rotineiramente. Seu uso regular é contra indicado para todos”.   
A assistente administrativa Gislaine de Oliveira, de 29 anos, conta que devido a seu trabalho, ela tem de usar sapatos de salto na maior parte do dia, e que por conta disso começou a sofrer com dores, e por isso teve de encontrar soluções alternativas: “No fim de um dia de trabalho eu sentia dores fortes nas pernas e coluna. Decidi começar a usar sapatilhas e saltos mais confortáveis. Agora salto alto só quando vou sair para me divertir e se ainda for de carro!” revela. A estudante Clarissa, de 22 anos, também enfrenta dores pra conseguir usar saltos, principalmente na região dos calcanhares e da sola dos pés, por isso deixa o calçado para momentos especiais: “nem sempre uso saltos, só se precisar mesmo, se for uma ocasião que requer usar salto, caso contrário eu escolho um sapato sem salto”. Entretanto, existem muitas mulheres que para se sentirem bonitas até suportam o incômodo, é o caso de Bruna Cabett, estudante, modelo e fotógrafa de 19 anos, que confessa que sua paixão por sapatos é tão grande, que vale a pena “aguentar”, mas enfatiza que na hora de escolher um calçado, vai mais pelo conforto que pela beleza: “É claro que a beleza conta, mais nada se compara a qualidade não é, então, prefiro 60% conforto e 40% beleza, portanto, vou direto em uma marca que sei logo que é confortável ao extremo, lindos e até dá vontade de comer pelo cheiro!” finaliza. 

Ana Paula de Almeida

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